sábado, 18 de setembro de 2010

As engrenagens do Carrossel Caipira

O time de Mogi Mirim ficou conhecido no início da década de 90 pelos resultados obtidos em campo com uma equipe versátil e eficaz. Entre todas as peças importantes que formavam o Carrossel Caipira, três hábeis jogadores se sobressaíram: Rivaldo, Leto e Válber. O trio aliou criatividade, força e malandragem para encantar os torcedores com a movimentação tática ofensiva criada pelo técnico Vadão, outra peça fundamental para a regência de toda essa engrenagem.
Os próximos posts serão sobre esses componentes, de características tão diferentes – três jogadores e um técnico. De forma breve, resumiremos a trajetória profissional de cada um dentro do Mogi Mirim até os dias de hoje. Hoje falaremos sobre o Rivaldo, sem dúvida, o personagem de maior destaque por conta de suas inúmeras conquistas.

Rivaldo - Foto: O Impacto


Rivaldo Maravilha, a força

Hoje aos 38 anos e com mais de duas décadas de carreira, o jogador Rivaldo Vitor Borba Pereira, conhecido popularmente apenas por Rivaldo, traz na bagagem títulos nacionais e internacionais ganhos nos diversos times em que atuou.  Pela Seleção Brasileira o atleta conquistou em 1996 a medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos em Atlanta. No ano seguinte, ganhou a Copa das Confederações e em 1999 a Copa América. No mesmo ano foi eleito o melhor jogador de futebol do mundo pela Federação Internacional de Futebol, a FIFA, e em 2002, foi pentacampeão da Copa do Mundo.
Sem dúvida, um currículo de conquistas importantes que permeiam os sonhos de muitos futebolistas. Atualmente, Rivaldo joga pelo Bunyodkor, no Usbequistão, país localizado no centro-oeste da Ásia, e preside, desde outubro de 2008, o Mogi Mirim Esporte Clube, time em que foi revelado. Mas para chegar tão longe foi preciso muita dedicação para superar e driblar as dificuldades da infância pobre.
A origem de Rivaldo, como a de muitos jogadores do Brasil, é humilde. Ainda criança jogava descalço nas ruas de terra na periferia do município de Paulista, região metropolitana do Recife, em Pernambuco. Aos 17 anos, com a perda prematura do pai, seu grande incentivador, pensou em abandonar o esporte para ajudar no sustento da família, mas por insistência da mãe permaneceu na base do time Santa Cruz.
O menino introvertido se destacou na Copa São Paulo de Juniores nos anos de 1991 e 1992 e logo foi contratado pelo Mogi Mirim, em troca da quitação de parte de uma dívida do time recifense com o do interior de São Paulo. Por coincidência, os três destaques do carrossel caipira, Válber, Leto e Rivaldo chegaram ao Mogi no início de 1992, todos vindos do mesmo clube, o Santa Cruz de Recife.
A habilidade nata de Rivaldo foi trabalhada assim que ele chegou ao Mogi, bem como suas deficiências nutricionais. Em pouco tempo o atleta apresentou um ótimo preparo físico e aprendeu a atuar no setor defensivo do time. Graças ao seu desenvolvimento ganhou a condição de atacante titular da equipe e se destacou com seus arranques, dribles e a precisão nas viradas de jogo - estilo que consagrou Rivaldo no futebol.
Durante a permanência do jogador no clube foram 27 gols e partidas memoráveis, entre elas se destacam o jogo contra o Noroeste de Bauru em 18 de abril de 1993, em que Rivaldo marcou um gol fantástico, direto do meio do campo. A façanha ficou conhecida como o gol que nem Pelé conseguiu fazer.
Outra partida inesquecível aconteceu em 15 de abril de 1993 no Parque Antártica contra o Palmeiras, na época considerado o “Dream Team” pela imprensa paulistana. Em um estádio com 14,6 mil torcedores, Rivaldo brilhou ao fazer o gol que deu a vitória ao Mogi com o placar de dois a um, vingando a derrota para o mesmo time em 1992.
Naquela época, Rivaldo, Válber e Leto se destacaram por fazerem parte de um time que ficou famoso ao revolucionar o futebol paulista e nacional.
Com um esquema tático semelhante ao da Holanda na Copa de 1974, até então pouco utilizado no Brasil, o Mogi Mirim passou a ser conhecido pela expressão “Carrossel Caipira”, pois a formação 3-5-2 dos atletas era rotativa.
Após um ano e meio com a camisa do Mogi Mirim, Rivaldo foi emprestado ao Corinthians por 12 meses e em seguida negociado pelo Sapo com o Palmeiras pela quantia aproximada de US$ 3 milhões. O atacante atuou no alviverde entre 1994 e 1996 quando conquistou o Campeonato Brasileiro e o Paulista, além de ganhar a Bola de Prata, prêmio anual criado pela revista Placar para os melhores jogadores do Brasileirão. 
Logo após o título paulista o seu passe foi comprado pelo clube galego Deportivo La Corunã, fundado na cidade da Corunha ao Noroeste de Galícia, pelo valor de 10 milhões de dólares. Rivaldo chegou ao clube para substituir o jogador brasileiro José Roberto Gama de Oliveira, conhecido como “Bebeto”, e mais uma vez se destacou. Marcou 21 gols na temporada, levando o Deportivo ao terceiro lugar no Campeonato Espanhol.  O feito chamou a atenção de outros grandes clubes da Europa e no ano seguinte ele passou a jogar pelo Barcelona. Lá, Rivaldo substituiu o jogador Ronaldo Luís Nazário de Lima, o “Ronaldo Fenômeno”, que havia sido transferido para o Internazionale Milano. O clube catalão desembolsou US$ 28 milhões para ter Rivaldo em seu time e o investimento valeu a pena. A sua estadia no Barcelona lhe rendeu dois Campeonatos Espanhóis (1998 e 1999), a Supercopa Européia (1998) e a Copa do Rei (1998). Foi o melhor período de sua carreira em clubes, a sua brilhante atuação resultou na primeira convocação para a Copa do Mundo em 1998, quando, apesar do seu ótimo desempenho,  o Brasil foi vice-campeão. No ano seguinte Rivaldo ganhou a Ballon d'or, ou Bola de Ouro, prêmio europeu criado pela prestigiosa revista francesa France Football e também foi eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo.
Sua próxima grande conquista foi o Pentacampeonado na Copa do Mundo de 2002, na Alemanha, onde liderou o Brasil marcando em todos os jogos da primeira fase, totalizando cinco gols. O atacante teve participação decisiva nas jogadas de gol das partidas seguintes. Pelo desempenho, foi eleito o segundo melhor jogador do torneio pela FIFA.
Ainda no mesmo ano, pouco antes da Copa, foi liberado pelo Barcelona após se desentender com o técnico Louis Van Gaal e passou a jogar pelo Milan. No clube italiano Rivaldo participou dos títulos da Copa da Itália e da Liga dos Campeões da UEFA, porém não se destacou e foi desbancado pelo jogador Ricardo Izecson dos Santos Leite, o talentoso “Kaká”, que apresentou uma ótima performance na temporada e se tornou um dos astros da equipe.
Embora tivesse um contrato de três anos com o Milan, o jogador permaneceu no clube por apenas um e no ínicio de 2004 resolveu voltar ao Brasil.
Já no país, foi contratado pelo Cruzeiro Esporte Clube. O time mineiro vinha de um ótima temporada, no ano anterior havia conquistado a “Tríplice Coroa” ao ganhar três importantes títulos: o Campeonato Estadual, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro – em que marcou mais de 100 gols, ganhando o campeonato com duas rodadas de antecedência. 
Apesar de todas as expectativas a atuação do pentacampeão foi considerada um fiasco. Rivaldo não estreou bem e só marcou o seu primeiro gol no décimo jogo com a camisa celeste. O atleta decidiu rescindir seu contrato antes do término do Campeonato Mineiro e assinou com um time grego, o Olympiakos, com pouca visibilidade no Brasil.
Na Grécia ganhou o Campeonato (2005, 2006 e 2007) e a Copa Grega (2005 e 2006) e embora tenha tido um bom desempenho com gols memoráveis acabou passando despercebido na disputa de vaga para a Seleção Brasileira.
Novos problemas com o Olympiakos fizeram Rivaldo deixar o clube em 2007 alegando salários atrasados. O atacante então assinou com o rival AEK Atenas onde jogou por apenas um ano
Depois de quatro temporadas na Grécia, Rivaldo passou a defender a camisa do Bunyodkor, clube fundado em 2005 por empresários do setor petrolífero e sediado em Tashkent, capital do Uzbequistão. A ida do jogador para o time foi negociada em 2008 por dez milhões de euros.
Em outubro do mesmo ano, mesmo jogando fora do país, Rivaldo assumiu a presidência do Mogi Mirim Esporte Clube, time do interior paulista em que se destacou e emergiu para o futebol no ínicio dos anos 90.
No primeiro semestre de 2010, em entrevista ao folhetim institucional do clube (Anexo X), Rivaldo declarou que assumiu a frente do MMEC por amor ao clube e que seu grande objetivo é leva-lo para a elite do futebol brasileiro. “Não me arrependo das coisas que faço, mas o Mogi Mirim não foi um investimento lucrativo. Bem pelo contrário. Só coloco dinheiro e tenho dor de cabeça. Mas estou por amor. Isso sim me faz feliz”, conta o atleta.

Wanda Pankevicius Barros


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